Povos da Amazônia e desenvolvimento sustentável.
De posições secundárias à centralidade.
Pollyana de Freitas Andrade Miguel
12/20/20242 min ler


Povos da Amazônia e desenvolvimento sustentável
De posições secundárias à centralidade.
Por tempos, a população amazônica ficou em posições secundárias durante discussões sobre desenvolvimento sustentável. Era um fenômeno tão anômalo que, em algumas situações, levava as discussões sobre desenvolvimento sustentável a um patamar quase exclusivamente teórico. Afinal, mesmo os que se envolviam pouco com o tema mudanças climáticas sabiam que o desenvolvimento sustentável da Amazônia era crucial para reverter esse processo. Contudo, ainda havia quem pensasse que desenvolvimento ocorria essencialmente com a floresta em pé, mesmo que fosse rodeada por uma população desnutrida, sem acesso à água tratada, acometida por doenças, sem acesso aos serviços básicos que garantam qualidade de vida e com baixíssimas condições de geração de renda.
Porém, mesmo em teoria, a origem do conceito de desenvolvimento sustentável, oriundo do Relatório Brundtland de 1986, já considerava as necessidades humanas ao descrevê-lo como “algo que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades". E, por satisfazer suas próprias necessidades leia-se ter oportunidades de vida digna. Portanto, como seria possível alcançar o desenvolvimento sustentável da Amazônia sem considerar as pessoas que ali vivem?
Essa não é apenas uma reflexão, mas uma diretriz que vem sendo cada vez mais considerada por instâncias de discussões sobre como implementar ações que envolvam os povos amazônicos, de forma pragmática, no centro do desenvolvimento desse território. Essa foi, inclusive, uma das linhas condutoras dos debates realizados durante a Semana do Clima desse ano, o maior evento do mundo sobre mudanças climáticas, que ocorreu durante os últimos dias de setembro em Nova York. Ali, muito se ouviu sobre o papel dos povos indígenas e ribeirinhos na sustentabilidade, bem como sobre a importância de reordenamento urbano e transformação das cidades amazônicas.
Quando aterrizamos na Amazônia, o que vemos também é uma população sedenta por mudança e, com uma lupa mais cuidadosa, encontramos pessoas locais dispostas a se engajarem em processos mais estruturantes, como ressalta Evando Almeida, CEO do Instituto Bempescado, organização do terceiro setor que realiza um trabalho de elevado impacto na região. Segundo ele “no ambiente tem pessoas que querem fazer com que evolua. Só precisa de alguém para articular”.
E aqui está a outra ponta do novelo! Tem quem deseje a mudança de “baixo para cima” e quem deseje a mudança “de cima para baixo”. Então basta que juntemos as pontas e encontremos o centro. Afinal, se o ser humano foi responsável por todas as consequências enfrentadas hoje, ele não pode deixar de ser central no processo de reparação.